O POVO, A NAÇÃO, A SOCIEDADE – OS SEM “BANCADAS” 15/fev/2011 . 22:38 | Autor: Seu Pimenta
“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam.”
Osias Lopes
A
frase acima, e que abre este opinativo, é atribuída a Arnold Toynbee,
economista inglês que viveu apenas 31 anos (23/8/1852 a 9/3/1883), cujo
trabalho envolvia história econômica, compromisso e desejo de melhoria
nas condições das classes sociais. Pode parecer mais uma daquelas frases
de efeito que nos acostumamos a ouvir em conferências rasas que compõem
eventos de cientificidade não menor de profundidade, mas nos faz
compreender muito rapidamente tratar-se de inhenhos os que desdenham da
ingente importância da atividade política para a sociedade hodierna.
Ora,
é na política (diga-se, no Congresso Nacional, em sua forma bicameral:
Câmara dos Deputados e Senado Federal, nas Assembléias Legislativas
Estaduais e nas Câmaras de Vereadores) que se define o valor do salário
mínimo; as regras da nossa aposentadoria; o quanto deveremos pagar de
imposto de renda a cada ano; o prazo de financiamento do automóvel que
compramos; que impostos incidem nos alimentos; regras da saúde nas suas
áreas pública e privada; sistema educacional; o imposto sobre a casa em
que moramos, e por aí vai.
Pois é, no mundo hodierno (se não
sempre o foi), é impossível viver sem dar atenção à política, sem se
interessar pela política. O fato é que todos nós fazemos parte desse
mundo político, nele influenciando fortemente, com ação ou omissão,
sendo esta última notoriamente a mais covarde e mais prejudicial
atitude. A propósito do tema - política -, já falei aqui no Pimenta
em comentário no mês de julho do ano passado sobre o péssimo sistema
eleitoral brasileiro e os graves malefícios que ele traz à nação.
Rememorando
alguns pontos daquele comentário de julho de 2010, apenas para
justificar o presente artigo, disse, citando trechos de responsabilidade
de Luís Roberto Barroso*, que o sistema eleitoral pátrio estimula
anomalias como o “clientelismo (a negação da intermediação partidária), o
patrimonialismo (o exercício do cargo público para fins privados, para
realizar objetivos próprios), e a corrupção (que se alimenta e se
robustece nesse mesmo ambiente de convívio inadequado entre o público e o
privado)”.
Relembro a todos que no mundo democrático apenas dois países o adotam: Brasil e Finlândia. Isto é pelo menos estranho, não?
UM AZAR QUE PERMANECE, ACOMPANHADO!
Reparem
que, como diz a sabedoria popular, “o azar nunca anda sozinho” e
“desgraça pouca é bobagem”. Na questão eleitoral brasileira estes
adágios têm tido, infelizmente, um sentido real, eis que, a par do
sistema eleitoral ruim, nos deparamos com o desastroso e extremamente
danoso (à plena democracia e ao erário) financiamento privado de
campanha.
PLANOS DE SAÚDE FINANCIANDO CAMPANHAS
Chamou-me a
atenção, fazendo minha leitura diária do jornal “A Tarde” (domingo, dia
13/2/2011), a matéria intitulada “Planos de saúde financiaram 20
partidos”, contida no seu Caderno de Política, na página B3, não pelo
ineditismo de sua natureza, uma vez que a Lei Eleitoral brasileira
permite a doação de entidades privadas para campanha eleitoral de
candidatos, mas a constatação de que os interesses privados estão
expandindo o número de seus defensores no Congresso Nacional.
Do
conteúdo da notícia dá para perceber que “não se interessar por
política” pode “custar” (com trocadilho e tudo) até a saúde! A partir
dela dá também para compreender porque são verdadeiramente inhenhos,
tolos, os que insistem em não participar ativamente do processo político
- votando ou sendo votado, com responsabilidade.
PARLAMENTO - BICHO DE SETE CABEÇAS!
Dita
matéria dá conta de que os Planos de Saúde, à força do dinheiro que
“investem” em campanhas eleitorais, estão expandindo sua bancada no
Congresso Nacional! Eram 28, agora são 38 deputados federais da
“bancada” da saúde suplementar!
Observem que já existem: bancada
dos ruralistas, bancada dos industriais, bancada dos lojistas, bancada
dos evangélicos, bancada dos usineiros da cana de açúcar, bancada da
bola (aqui me refiro do futebol!); bancada disso, bancada daquilo; etc.,
etc., etc..
Isto é demasiadamente preocupante, ruim e complicado
para a sociedade! É “bancada” para todo e variado gosto. E a bancada do
povo? Será que não há uma bancada da Nação brasileira, do povo?
Que
bancada no Congresso, em contraposição às acima mencionadas “bancadas”
(com trocadilho mesmo!), vai cuidar dos interesses de quem precisa do
plano de saúde, de quem precisa da reforma agrária, de quem precisa de
medidas de contenção de preços de produtos rurícolas, industriais, etc.,
etc., etc.? As coisas ainda estão muito complicadas para o povo, como
estamos vendo todo dia noticiado através da mídia em geral. O que tem
salvado são as iniciativas do Executivo Federal, porque o Congresso…
Nos
parlamentos estaduais e municipais brasileiros o cenário não muda
muito. É só aplicar a regra mutatis mutandi e pronto, um é espelho do
outro!
Pois é… Não tenhamos dúvidas, esse “bicho de sete cabeças”
é gerado pela atual legislação eleitoral, e pela forma de financiamento
de campanha eleitoral.
A INGENTE NECESSIDADE DA REFORMA POLÍTICA
Registre-se
aqui, firmemente, que não se tem dúvida de que existem abnegados
políticos no Congresso Nacional vocacionados para a causa pública. Isto é
inconteste. Conheço vários. E estes, seguramente, vão batalhar pelas
reformas políticas que o país reclama.
Contudo, somente uma
reforma política consistente e consequente, juntamente com o
financiamento público de campanha, é a alternativa para que realmente
venha a existir uma robusta bancada do povo, pelo povo, e para o povo,
pois com ela se dará azo para que idealistas, intelectuais, estudantes,
trabalhadores, lideranças populares, gente do povo enfim, possam se
candidatar e disputar em igualdade de condições, ao menos financeiras, e
assim protagonizar discussões salutares nos parlamentos brasileiros em
detrimento das hoje existentes e deprimentes “bancadas” de apelidos.
É
muito mais barato ao erário e à Nação o financiamento público de
campanha, e com ele teremos um Legislativo com bancada “bancada” pelo
povo. Simples!
PARA PENSAR E RESPONDER
SISTEMA PÚBLICO DE
SAÚDE - A tal “bancada” da “saúde suplementar” (leia-se Planos de
Saúde Privados) vai cuidar intransigentemente da defesa dos interesses
do Sistema Único de Saúde – SUS?
SISTEMA PÚBLICO EDUCACIONAL -
Tem um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional que obriga a
detentores de cargos públicos (senadores, deputados - federais e
estaduais, vereadores e cargos do Executivo) a matricular seus filhos em
escolas públicas, o que obviamente os forçará a dar atenção apropriada
às questões educacionais.
Vindo a assim ser, a escola pública não voltará a ser eficiente?
É como se diz… perguntar não ofende!
*
in “A Reforma Política: Uma Proposta de Sistema de Governo, Eleitoral e
Partidário para o Brasil”, de autoria e de responsabilidade de Luís
Roberto Barroso - Instituto Idéias – Instituto de Direito do Estado e
Ações Sociais (www.institutoideias.org.br).
Osias Lopes é advogado, ex-procurador dos municípios de Ilhéus e Itabuna e ex-secretário de Administração de Itabuna
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