"Todos se afastaram. Minha casa ficou vazia", diz portadora do HIV

Técnica de enfermagem foi infectada após uma transfusão de sangue

Uma transfusão de sangue, em dezembro de 2005, mudou toda a vida da técnica em enfermagem Eliana Regina Ribeiro, de 35 anos. O procedimento, necessário por causa de uma doença no sangue, transformou-se em um pesadelo. De repente, ela descobriu que tinha adquirido o vírus da Aids. Com a notícia, vieram o medo e o preconceito. Parentes e amigos se afastaram. Além dela própria, o marido também entrou em depressão e foram necessários três anos para a vida começar a fluir o mais próximo do anormal. "Todos se afastaram. Minha casa ficou vazia", diz Eliana.
A dor do preconceito, hoje, machuca mais que o medo da própria doença. Eliana diz que teve de aprender com o sofrimento para ter uma vida mais "mais ou menos estável". Ela conta que passou por momentos terríveis na vida e que enfrentar a sociedade não é fácil. A falta de informação sobre a Aids, da forma de contágio, fizeram da técnica de enfermagem, seu marido e seu filho reféns do preconceito em Mogi Guaçu, onde mora.
Uma vergonha
Hoje, cinco anos depois da contaminação, ela luta para que a forma como foi contaminada seja reduzida. Para que haja critérios mais rígidos acerca da doação de sangue, a começar pelos órgãos oficiais. "O governo não investe nada nisso (em campanhas). É muito triste viver num país tão informado e não ter propaganda para doar sangue". Por experiência da própria profissão, ela diz que, por causa da falta de sangue no banco, os hospitais colocam à disposição o sangue que estão na janela imunológica. Ou seja, o sangue doado por pessoas que podem ter contraído o HIV nas vésperas da doação.
"O sangue contaminado não serve para nada. O teste podia ser mais rigoroso, como nos Estados Unidos", diz Eliana. Ela diz não ser a única nesta situação, mas que faz a sua parte e não perde oportunidade para dar seu depoimento sobre o assunto, para denunciar esta forma de contaminação. "É difícil você botar a cara para bater".